Procura por esses medicamentos dobrou no primeiro mês do ano e cenário chama atenção para uma prática perigosa e recorrente: a automedicação
Quase dois anos após o início da pandemia, as farmácias voltaram a registrar uma corrida em busca de medicamentos específicos. Desta vez, em função do surto de influenza (gripe) atrelado ao crescimento de casos de Covid-19.
As vendas de remédios como xaropes, que são usados para o tratamento da tosse, antialérgicos e principalmente os antigripais dispararam no primeiro mês de 2022. Nas Farmácias Estrela, de Cascavel, as vendas desses remédios dobraram em janeiro em comparação com os meses considerados normais. Exemplo disso é que as vendas de alguns desses medicamentos saltaram de 20 unidades por dia para 80.
Da categoria dos antigripais, a demanda é maior pelos anticongestionantes, xarope e antialérgicos. Até os antibióticos, que exigem a apresentação de receituário médico para compra, começaram a sair das prateleiras com mais velocidade. “Devido à alta transmissibilidade do vírus, houve registros de muitas pessoas com quadros gripais, o que justifica a procura por esses medicamentos estar sendo tão elevada”, comenta a farmacêutica da rede Estrela, Isabella Gaffuri.
As vitaminas também estão em alta. Elas representam um reforço para atenuar efeitos da Covid-19 e reforçar a imunidade, desde que usadas com cautela. “Algumas pessoas nem estão com sintomas, mas ficam com medo de pegar o vírus e optam em fortalecer o sistema imunológico logo”, observa.
O aumento nas vendas ainda não impactou nos preços, mas alguns medicamentos podem faltar nos próximos dias, especialmente antigripais e xaropes. Além disso, mesmo não havendo desabastecimento de produtos, o que ocorre é a escassez por parte de algumas marcas, revelando que o cenário também reflete nas indústrias e distribuidoras. “A grande parte são antiobióticos. Amoxicilina, que é um medicamento bem procurado, prednisolona, que é um xarope muito utilizado, antiflamatórios e antialérgicos também são medicamentos que estão em falta em algumas marcas específicas”, lembra a profissional.
Uso indiscriminado de medicamentos
A alta busca por antigripais também acende o alerta para um comportamento perigoso e recorrente entre a população: a automedicação. O hábito de ingerir medicamentos sem prescrição médica tem preocupado os profissionais da saúde durante a pandemia, isso porque pode gerar diversos problemas como intoxicação e reação alérgica, além de mascarar os sintomas ou causar dependência. E especialmente em um cenário no qual os sintomas de Covid-19 e Influenza podem ser confundidos, a atenção deve ser redobrada.
“É importante que as pessoas tenham o cuidado de não fazer uso de remédio sem a orientação do profissional. Por exemplo, há casos em que a pessoa está tomando um antigripal que contém paracetamol e, sem saber, muitas vezes, ela superdosa esse medicamento tomando mais doses desse mesmo remédio. Por isso, é importante avaliar qual medicação é adequada para cada caso, de acordo com os sintomas, e isso somente um profissional da saúde pode fazer”, ressalta a farmacêutica.
Além disso, as interações medicamentosas feitas de forma incorreta podem agravar os sintomas já existentes e, inclusive, levar o paciente a óbito. “Pessoas que já fazem o uso de medicamentos contínuos, como para diabetes, anticoagulantes, possuem restrições que devem ser respeitadas, principalmente na questão de dosagem”, exemplifica a profissional.
Nesse cenário de incertezas, os farmacêuticos podem ser bons aliados. Gaffuri, inclusive, lembra que existe uma lei que determina a presença de um profissional farmacêutico em todo estabelecimento e buscar essa ajuda só traz benefícios para a saúde. “Nossa responsabilidade é atender e avaliar a situação em que o paciente vem buscar o medicamento. Ou seja, orientar e, se for preciso, corrigir alguma indicação farmacológica. Quando os pacientes relatam alguns sintomas específicos, ou até mesmo aqueles tradicionais de gripe, como coriza e tosse, temos que tratar, atualmente, como uma suspeita de Covid. Apesar de podermos recomendar a medicação e instruir sobre a forma correta de uso, sempre frisamos que é importante buscar uma unidade de saúde para ter uma avaliação médica mais concreta”, finaliza Gaffuri.