O tratamento oncológico requer atendimento multidisciplinar e individualizado. Um profissional importante no acompanhamento do paciente é o nutricionista. É ele quem irá traçar o plano alimentar de cada um, para garantir que todas as necessidades nutricionais sejam preservadas durante o processo terapêutico do paciente oncológico.
Por isso, em alusão ao Dia Mundial de Combate ao Câncer, lembrado neste 04 de fevereiro, preparamos um material especial sobre o papel da nutrição durante o tratamento contra essa doença.
A manutenção de uma boa alimentação é fundamental para o controle dos sintomas do câncer e dos efeitos colaterais dos tratamentos. De acordo com Bruna Moreto, nutricionista da rede de Farmácias Estrela, a inapetência e a dificuldade de aceitar alguns alimentos, características do tratamento oncológico, precisam ser acompanhadas de perto para garantir que as drogas administradas para o combate à doença tenham o efeito planejado e não prejudiquem o estado nutricional dos pacientes.
A nutricionista explica que o ideal é que o acompanhamento tenha início logo que é feito o diagnóstico do câncer e deve seguir durante todas as etapas do processo que pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia, transplante, imunoterapia, por exemplo. Com um quadro nutricional adequado, o paciente vai responder de forma mais positiva às intervenções terapêuticas, inclusive com menos efeitos colaterais.
Higienização dos alimentos
Outro ponto importante é garantir a qualidade e a higienização máxima de tudo o que o paciente ingere. A agressividade dos tratamentos pode causar diminuição da imunidade, tornando a pessoa mais suscetível às infecções. Dessa forma, se mal lavados, os alimentos podem conter micro-organismos causadores de infecções alimentares. “Quando comprar os alimentos, observe com atenção a qualidade e o frescor de frutas, verduras, legumes, carnes, peixes e ovos. É importante verificar se a embalagem não está danificada, pois isso permite a entrada de micro-organismos que podem causar doenças. Observe sempre a data de validade antes de comprar e consumir quaisquer alimentos e mantenha-os nas temperaturas recomendadas nos rótulos. Todas as embalagens comerciais de queijos, leite, iogurte e outros alimentos devem ser lavadas com sabão de coco ou neutro antes de irem para a geladeira ou freezer”, recomenda a nutricionista.
Colostomia e ileostomia
A nutricionista explica que nos casos de colostomia e eleostomia – procedimentos cirúrgicos para pacientes com tumores do trato gastrintestinal -, não é necessário seguir uma dieta especial, mas, sim, adotar alguns cuidados e observar as reações aos alimentos que causam desconforto abdominal. “Alguns alimentos favorecem a formação de gases, entre eles ovos e feijão. Já outros, causam odor forte nas fezes, como cebola, repolho e frutos do mar. Cada pessoa reage de uma maneira e é preciso observar a reação do organismo para adaptar a dieta”, comenta.
Entre os cuidados com a alimentação para esses pacientes estão: consumir pequenas porções, sempre lembrando de mastigar bem os alimentos, fazer de cinco a seis refeições diárias, ingerir de seis a dez copos de água por dia, complementando com sucos naturais, chás ou água de coco. Além disso, a profissional também destaca a importância de controlar o consumo de alimentos que causam diarreia ou constipação. “Batata, maçã, banana e arroz branco são alimentos que prendem o intestino. Já os alimentos ricos em fibras, como folhas verdes, arroz integral, cenoura, aveia e castanhas aceleram o trânsito intestinal”, informa a profissional.
Mucosite
No tratamento do câncer, algumas medicações podem levar ao desenvolvimento de mucosite, uma inflamação na área da boca, faringe e todo trato gastrintestinal. Nesses casos, é fundamental que o paciente procure uma orientação odontológica. No entanto, em relação à alimentação, a nutricionista ressalta que o paciente deve evitar alimentos ácidos, picantes, condimentados ou salgados, assim como alimentos duros e de difícil mastigação. “A comida deve ser preparada na consistência que o paciente consiga tolerar da melhor forma e que ofereça menos dificuldade para mastigar ou engolir, como purês, suflês, mingaus, pudins, gelatinas, carne moída, etc. Importante também evitar alimentos secos, salgados e ácidos. Nos casos mais graves, prefira alimentos líquidos, liquidificados, frios, gelados ou em temperatura ambiente”, orienta a nutricionista.
Pós-tratamento
É comum que alguns dos efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia continuem mesmo após o fim do tratamento do câncer. Falta de apetite, boca seca, dificuldade para engolir e mudanças de peso são alguns dos sintomas. Também é bastante recorrente que o paladar e olfato das pacientes mudem após os tratamentos. Mas não se preocupe: essa fase é normal e revertida com o passar do tempo. Aos poucos, o paciente poderá voltar a apreciar a comida, mas sem deixar de lado os cuidados com a saúde.
Para isso, de acordo com a nutricionista, é preciso desenvolver estratégias para lidar com estes efeitos colaterais, baseando-a em hábitos saudáveis e respeitando suas preferências e restrições. Afinal, o corpo precisa de uma boa reserva de nutrientes para reconstruir os tecidos e recuperar a força. “Algumas dicas são válidas para a maior parte dos casos. Uma delas é escolher itens variados que contemplem todos os grupos alimentares: proteínas, carboidratos e lipídios, vitaminas, água e sais minerais, tendo sempre em mente as quantidades adequadas de cada cada um para o seu corpo”, comenta.
Outra indicação da profissional são alimentos com alto nível de fibra, como pães integrais e cereais. Eles auxiliam muito na recuperação muscular, pois fazem parte dos carboidratos de origem vegetal e são mais resistentes à digestão, levando um número maior de nutrientes ao intestino grosso.
“Também é orientado que o paciente coma, no mínimo, duas porções e meia de frutas e vegetais diariamente, pois são ricos em nutrientes e minerais. Tente diminuir a quantidade de gordura em suas refeições, substituindo frituras por alimentos assados ou fervidos e o leite integral pelo desnatado. Também ajuda reduzir a ingestão de carne vermelha (bovina, de porco e de cordeiro) a no máximo 3 ou 4 refeições por semana. Evite usar muito sal e consumir itens defumados (bacon, salsicha e frios, por exemplo) e em conserva, bem como alimentos processados, pois possuem substâncias que podem fazer mal para o organismo. A alternativa são produtos orgânicos e in natura, que são mais saudáveis. Lembre-se de que o álcool é um conhecido fator de risco para o desenvolvimento de câncer, portanto, tente evitar”, conclui Bruna.